quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Outono passado

Quando as duas meninas chegaram na ilha, a natureza que ali a muito não era visitada pareceu dar um leve sorriso de recepção.
 Ouviu-se pássaros cantando uma indecifrável canção, ora parecia triste, ora feliz.
 Ouviu-se vozes quase que mudas fazerem cochichos.
 As flores pareciam dançar embaladas por um misterioso vento que invadiu aquele lugar.
 A menina mais velha segura as pernas da mais nova que se atira na ponte a fim de pegar uma flor que flutua na água.
 A velha ponte de madeira balança, e por um momento a garotinha pareceu cair na água, mas eis que a mais nova erguida pela irmã mais velha se apresenta ilesa, sorrindo com uma flor nas mãos.
 Parecem felizes e agora irão brincar na ilha, ajudar as formiguinhas a levarem comida para o formigueiro, irão correr embaladas por uma alegria que cedo ou tarde seria roubada.
 Está tarde, talvez tenha se passado anos desde que nunca mais aquelas menininhas visitaram a ilha.
 O tempo se despede do outono.
  Um frio impetuoso começa a cobrir até mesmo a alma, a natureza anuncia a chegada de um inverno cujo não se vê o fim.
 Uma neblina cobre todo o território, a vida está coberta pela sua cinza, que cobre os olhos e nos faz andar como cegos.
 Restam-se apenas as pegadas no coração que chora.
 A ilha tentou avisar que aquele seria o último segundo, que aquele momento seria lembrado para sempre no coração de alguém que agora sozinha chora.
 A ilha sentiu falta das meninas e até a ponte de madeira pareceu entristecer-se.
 A natureza sabia desde o início que chegaria o tempo em que alguém sairia ferido dali, e o inverno que chegou preparava alguém para o início de uma temporada nebulosa, o inverno da alma.
 Que chegaria cedo ou tarde não sabia se para o bem ou para o mal.

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